O ABC dos sentimentos
As descobertas da neurociência sobre a química das emoções mostram como elas são fundamentais também para as decisões movidas pela razão
Naiara MagalhãesSetembro de 1848, arredores da cidade de Cavendish, nos Estados Unidos. Aos 25 anos, o capataz Phineas Gage era o responsável pelo assentamento dos trilhos da principal estrada de ferro do estado de Vermont. Sob seu comando, os operários dedicavam-se a explodir as rochas que se encontravam no meio do traçado da ferrovia. Numa tarde de muito calor, por volta das 4 e meia, uma detonação malsucedida poria Gage, um rapaz atlético, de 1,70 metro de altura, num lugar de destaque na história da medicina. Ele seria personagem do mais notório e bem documentado caso de que as emoções têm base física no cérebro e são imprescindíveis para o exercício da razão. Com a explosão, uma barra de ferro com aproximadamente 6 quilos, 1 metro de comprimento e 3 centímetros de diâmetro entrou pela bochecha esquerda do jovem, trespassou-lhe a base do crânio e saiu pelo topo da cabeça. Arremessado a mais de 30 metros de distância, ele sofreu algumas convulsões, mas, logo depois, já caminhava, falava e conseguia manter-se coerente. Depois do acidente, no entanto, sua personalidade mudou, comprometendo inclusive sua capacidade de tomar decisões. O até então responsável e gentil Gage tornou-se mentiroso, inconveniente, arrogante, insensível e antissocial. Ele perdera “a capacidade de antecipar o futuro e de elaborar planos de acordo com essa antecipação no contexto de um ambiente social complexo”, conforme definiu o neurocientista português António Damásio, no livro O Erro de Descartes - Emoção, Razão e o Cérebro Humano (editora Companhia das Letras). Impossibilitado de trabalhar, restou-lhe virar atração de circo: em suas apresentações, Gage exibia com orgulho a ferida na cabeça e a barra de ferro que havia lhe perfurado. Ele morreu aos 38 anos, em 1861, depois de uma série de convulsões.
Para ver o texto completo leia o O ABC das Emoções, publicado na revista VEJA, edição 2184.
Nenhum comentário:
Postar um comentário